30 de janeiro de 2012

Identificando a Dependência Química

Alguns critérios descritos abaixo, foram formulados para o diagnóstico da dependência química e foram elaborados nos anos 70 por Griffith Edwards, médico especializado no assunto e escritor de vários livros sobre o àlcool e outras drogas.


Compulsão ou perda do controle: Uso abusivo e frequente da substância, um desejo muito forte e persistente de usar.  Identificamos a compulsão ou perda do controle em frases como:
    "Se eu tomar um ou dois, não paro mais."
   "Se eu passar por um bar, esqueço da promessa de parar."
   "Se eu passar pela boca, entro."
   "Se fumar uma vez, volto."
   "Passo o dia fissurado por um gole."


Tolerância: A tolerância é a necessidade de doses cada vez maiores da substância para se obter os mesmos efeitos de antes. O corpo vai se acostumando ao efeito da droga. Percebendo sua presença constante no organismo, cria mecanismos para dificultar sua ação sobre os neurônios (diminui os receptores, torna-os menos sensíveis, destrói a substância com mais rapidez). Isso faz com que o usuário necessite de doses cada vez maiores. Na prática, o usuário mantém uma ingestão constante de uma determinada droga e consegue fazer coisas que incapacitaria um usuário não-tolerante. Isso não significa que seu desempenho não esteja prejudicado (muito pelo contrário), mas não está incapacitado. Nos estágios mais avançados da dependência, o indivíduo começa a perder a tolerância e fica incapacitado com doses pequenas da droga.
Identificamos a tolerância em frases como:
"Eu sou forte para a bebida."
"Ninguém é capaz de me derrubar na bebida."
"Um tirinho ( ato de aspirar a cocaína) já não é a mesma coisa de antes."
"Um baseado já não me deixa mais retartado."


Síndrome de abstinência
: Os sintomas de abstinência são a evidência mais palpável da presença da dependência. Eles se caracterizam pela presença de sinais de desconforto, tanto físicos quanto mentais, ao reduzir  ou interromper  o uso da droga. Quase todas as drogas são capazes de desencadear sintomas de abstinência. A intensidade dos sintomas é progressiva. Inicialmente são predominantemente mentais: fissura pela droga, ansiedade, sintomas depressivos (desânimo, lentificação...), irritação, perda da concentração e insônia. Na medida em que a dependência aumenta, aumenta também a magnitude dos sintomas. Entre os sedativos podem surgir sintomas físicos, tais como tremor, suor difuso, palpitações cardíacas, aumento da temperatura do corpo, náuseas e vômitos, podendo chagar até a quadros de confusão mental (delirium). Identificamos a Síndrome de Abstinência em frases como:
"Pela manhã sempre estou irritado. Os sons me incomodam e as pessoas me tiram do sério facilmente. Acabo sempre dizendo coisas estúpidas, das quais sempre me arrependo depois. Depois de beber uma pinguinha, tudo melhora instantaneamente."
"Tenho uma tremedeira logo cedo que passa depois de uma rebatida lá bar."
"Costumo sentir náusea e até vomitar quando escovo os dentes pela manhã."
"Logo que a cocaína acaba vem uma fissura intensa, incontrolável, que me faz sair para busca mais."
"Lá pelo terceiro dia sem fumar começo a me sentir ansioso, fissurado, inquieto e desconcentrado. Tenho a sensação de que nunca mais levarei uma vida tranqüila novamente."


Uso da substância para aliviar os sintomas de abstinência: Esse é um comportamento antecipatório, que visa a evitar o surgimento dos sintomas de desconforto. O indivíduo aprende (mesmo que não perceba) quando os sintomas aparecem e procura sempre usar a sua droga de escolha antes. A partir desse ponto, já se observa um consumo rotineiro da substância em sua vida.Identificamos esse fator, em frases como:
"Tomo um gole de uísque na hora do almoço para me aprumar."
"Só bebida cura minha tremedeira matinal."


Relevância do consumo: O consumo da substância torna-se prioridade. O indivíduo acaba deixando de lado coisas que antes fazia e gastando maior parte do seu tempo e  dinheiro, na busca pela substância. Identificamos a Relevância do consumo nas seguintes frases:
"Eu e meu pai costumávamos sair todos os fins de semana. Depois que começou a beber pra valer, não nos encontramos como antes, vejo-o mais distante e acho que ele até me evita às vezes.
"Estou mais distante porque as pessoas se modificaram ao meu redor. Minha casa já não é mais a mesma, minha mulher só reclama e meus filhos parecem me evitar. Na verdade também ando sem tempo para a família. Tenho procurado emprego, mas a crise está pegando. Por isso tenho ficado mais tempo no botequim. Sempre aparece algum contato interessante por lá."


Estreitamento do repertório: O estreitamento do repertório é justamente a perda do vínculo social que justificava o consumo. O consumo se volta para o alívio ou evitação dos sintomas de abstinência. O indivíduo passa,  por exemplo, a consumir drogas em qualquer lugar (até mesmo em lugares considerados impróprios),  a qualquer dia e hora. A droga se torna uma necessidade, e não mais uma atitude, antes, vinculada a alguma ocasião social (beber para comemorar algo, festejar, fumar um baseado com os amigos para 'relaxar', cheirar para ficar mais sociável, etc). Podemos Identificar o Estreitamento de repertório na seguintes frase: 
"Bebo uma pinga com Cinzano logo cedo no Bar do Seu José, antes de pegar o ônibus. Às onze horas, tiro meu horário pro cafezinho na repartição e dou um pulo no Bar do Seu João, que ao me ver pisar no seu botequim já vai logo pegando a garrafa de vodca e me serve aquela espremida com limão. Depois do expediente tomo umas sozinho e vou pra casa. Mas sempre saio mais uma vez pra comprar o cigarro. Chegando lá, Seu José tem sempre aquela pinga com Cinzano prontinha pra mim.


Reinstalação da síndrome de dependência: É o reaparecimento dos sintomas físicos (síndrome de abstinência) e comportamentais (uso para alíviar os sintomas, relevancia) do consumo, estreitamento do repertório), após variáveis períodos de abstinência. Ou seja, após um período sem usar, o usuário  sofre uma recaída e volta ao uso, inicialmente, ele pode conseguir "controlar" seu uso, como fazê-lo esporádicamente, mas por maior que tenha sido seu período de abstinência, um breve retorno ao consumo,  pode fazer o indíviduo voltar ao seu antigo padrão de uso. O consumo de substâncias, como o álcool, os solventes e a maconha, leva um tempo considerável até o aparecimento da dependência e curto se tratando do crack e dos opiáceos. Identificamos a reinstalação da síndrome de dependência em frases como:
"Não bebia há anos. Comecei a namorar uma garota que bebia. Dava uns goles de vez em quando. Aos poucos, aquela fissura, ansiedade e inquietação que nem lembrava mais que existiam voltaram rapidamente. Quando me percebi, um mês depois, já voltei a beber como antes.

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